Sangro silêncio


Seguir em frente, neste momento, soa como uma sentença
Devo erguer a cabeça e deixar de lado lembranças que esmagam meus sentidos
E como dói carregar toda essa bagagem que é amar
No sentido mais cru, despido, entregue
Sem qualquer resquício de medo

Ainda lembro...
Com a exata nitidez de quem revive o agora
Do nosso uno, surgiu a mais nova palavra criada
Com intenção de dar nome ao inominável
Vinda ao mundo por um grito visceral

Quando sua boca entoou meu nome
Extrapolando todo limite de magnetismo
Meu único desejo foi me costurar em ti
Sendo, fio a fio, uma só pele
Em que não se sabe onde termina o que sou e começa o que você é
Numa mistura caótica e inebriante

Restou apenas a lástima da penúltima lágrima
Que precede a pólvora do sentimento desesperador:
Deixei de ser o beijo que sua boca pede
O casto motivo que faz tua pele arrepiar
O êxtase de antes se veste com a melancolia do agora

E, neste momento, questiono formas
De me descosturar de ti, desgrudar minha pele da tua
Desatar nós e desfazer o abrigo de sentimentos aninhados
Tentarei fazê-lo de forma a causar menos estragos
Mas não prometo conseguir

aspas
A cada nova linha que completo
Um novo amanhecer se faz aqui
Trazendo luz pra minha escuridão interna

As linhas em branco
Me concedem o poder
De traduzir as fagulhas do meu caos interno
E me aproximar cada vez mais de mim

(Em branco, escrito em 25 de abril de 2023)