Espelho desabitado

Pensando no etéreo da vida
Sobre as belezas que não se condicionam
Percebo-me entorpecida de uma lucidez que traz consigo a solidão

Mesmo sóbria, despida de ilusões,
Devo confessar:
Meus olhos ainda buscam os seus
Mas, como em um quarto escuro,
Eu não te encontro

Observo o silêncio
Pois o tempo parou nesse instante
E o reflexo no espelho
Já não demonstra qualquer vestígio de entusiasmo

Se eu tivesse um último pedido
Gostaria de entender nossa conexão
Sob o alívio de outra taça de vinho
Ouvir os absurdos que ficaram por dizer,
E finalmente silenciar antigos anseios

Diante de você,
Talvez eu não corra
Talvez eu ignore o medo
O pavor que sinto em qualquer resquício emergente
De perda de controle sobre mim
Mas sinceramente, meu bem, me questiono se desde você
Em algum momento tomei as rédeas dos meus desejos
Sem que houvesse sua sombra

“Onde estiver o teu pensamento, aí estarás também”


Muitas foram as moradas do meu pensamento
Ocupo meu coração com desejos que, verdadeiramente, gostaria que fossem reais
Das terras mais profundas do meu imaginário até o espaço que meus pés podem tocar, eu sou
Sou intensamente, sou fervorosamente

Ilustro minhas ilusões e dou a elas formas bonitas, cintilantes e cor-de-rosa,
Bem como sempre são no meu território lírico
Enchem meus olhos, são meu refúgio, meu sustento:
Um novo significado à minha esperança
Bebo disso como um alcoólatra necessita da sua dose,
Como se cada pedaço de mim implorasse por mais

Mesmo que o meu delírio seja completamente desconhecido, irreal, furiosamente distante,
Eu sigo sendo
Intensa e fervorosamente
Uma devota das minhas próprias idealizações
Como se, assim, elas pudessem tornar-se reais

Sangro silêncio


Seguir em frente, neste momento, soa como uma sentença
Devo erguer a cabeça e deixar de lado lembranças que esmagam meus sentidos
E como dói carregar toda essa bagagem que é amar
No sentido mais cru, despido, entregue
Sem qualquer resquício de medo

Ainda lembro...
Com a exata nitidez de quem revive o agora
Do nosso uno, surgiu a mais nova palavra criada
Com intenção de dar nome ao inominável
Vinda ao mundo por um grito visceral

Quando sua boca entoou meu nome
Extrapolando todo limite de magnetismo
Meu único desejo foi me costurar em ti
Sendo, fio a fio, uma só pele
Em que não se sabe onde termina o que sou e começa o que você é
Numa mistura caótica e inebriante

Restou apenas a lástima da penúltima lágrima
Que precede a pólvora do sentimento desesperador:
Deixei de ser o beijo que sua boca pede
O casto motivo que faz tua pele arrepiar
O êxtase de antes se veste com a melancolia do agora

E, neste momento, questiono formas
De me descosturar de ti, desgrudar minha pele da tua
Desatar nós e desfazer o abrigo de sentimentos aninhados
Tentarei fazê-lo de forma a causar menos estragos
Mas não prometo conseguir